Foi em 1518 que ocorreu a primeira
instalação de um engenho no Brasil, época onde havia sido registrada a entrada
de açúcar brasileiro na alfândega de Lisboa. Contudo, muitos consideram que a
verdadeira indústria do açúcar foi implantada no Brasil a partir de 1530, com a
vinda de Martim Afonso de Souza. Em 1570 já havia 60 engenhos no Brasil. A
necessidade de mão de obra levou os donos dos engenhos a tentar, sem sucesso,
escravizar os indígenas. Então optaram por trazer escravos da África. Décadas
depois, a cachaça, um destilado dos subprodutos da produção do açúcar, melaço e
espumas fermentados, serviu de troca no comércio de escravos. Os senhores de
engenho dominaram a economia e a política brasileira por séculos, desde a época
colonial, passando pelo império e chegando à república, embora ao longo dessas
épocas tenham tido fases de declínios e reerguimentos. Os primitivos engenhos
implantados no início do século XVI geraram no século vinte o setor
sucroalcooleiro, que no início do século XXI se posicionou em segundo lugar na
matriz energética brasileira. Engenhoca fusão das palavras engenho + oca
(indígena), traduzindo por casa do engenho ou também um engenho pequeno, que
serve para fazer rapadura e cachaça. Engenhos de Açúcar No Brasil colonial, os
primeiros engenhos foram criados com capital português, pois, além deles já
conhecerem o produto, queriam atender a demanda do produto na Europa.
Havia os engenhos trapiches, movidos por
tração animal (bois ou cavalos);e os engenhos “reais" que eram movimentados por força hidráulica,
dividindo-se em: "copeiros", "meio-copeiros" e "rasteiros",
conforme a altura da queda d’água. Deve-se ressaltar que os engenhos reais eram
bem mais produtivos do que os "trapiches", embora, em épocas de seca,
se mostrassem menos eficientes. Os "trapiches" eram movidos por
sessenta bois, dispostos em turmas de doze, que faziam revezamento, trabalhando
um total de quinze a dezesseis horas em vinte e quatro.
Ambrósio Fernandes Brandão, autor dos
"Diálogos das Grandezas do Brasil" (1618), afirma-nos que um bom
engenho devia contar, no mínimo, com cinquenta escravos, quinze juntas de bois,
além de muita lenha e dinheiro. No engenho banguê havia várias construções: a
casa grande - moradia do senhor e de sua família; a senzala (lugar onde ficavam
os escravos); a capela; a casa dos trabalhadores livres; as serrarias de onde
saíam acabados o mobiliário, os apetrechos do engenho, além da madeira para as
casas e a casa do engenho onde ficava a moenda (movida a água ou a tração
animal) - onde se moía a cana para a extração do caldo (a garapa); a casa das
caldeiras ou fornalhas - onde o caldo de cana era fervido e purificado em
tachos de cobre; a casa de purgar - onde o açúcar era branqueado, separando-se
o açúcar mascavo (escuro) do açúcar de melhor qualidade e depois posto para
secar. Quando toda a operação do fabrico do açúcar terminava, o produto era
pesado e separado conforme a qualidade, e colocado em caixas de até 50 arrobas.
Só então era exportado para a Europa.
Muitos engenhos possuíam também
destilarias para produzir a aguardente (cachaça), utilizada como escambo no
tráfico de negros da África; canaviais que eram divididos em partidos,
explorados ou não pelo proprietário, as terras não exploradas pelo senhor do
engenho eram cedidas aos lavradores, obrigados a moer sua cana no engenho do
proprietário, entregando-lhe a metade de sua produção, além de pagar o aluguel
da terra usada (10% da produção); as pastagens, onde pouco gado era criado; e a
lavoura de subsistência, onde se destacava o cultivo de subsistência: mandioca,
milho, arroz e do feijão. Mas sua produção insuficiente não atendia às
necessidades da população do engenho. Isto porque os senhores não se
interessavam pelo cultivo, pois consideravam os produtos de baixa lucratividade
e prejudiciais ao espaço da lavoura açucareira, centro dos interesses da
colonização. As demais atividades eram deixadas num segundo plano, ocasionando
grande falta de alimentos e alta dos preços. Esse problema não atingia os
senhores, que importavam os produtos da Europa para sua alimentação. A parte
das terras do engenho destinada ao cultivo da cana - o canavial.
A sociedade açucareira, séculos XVI e
XVII, era patriarcal, onde a maior parte dos poderes se concentrava nas mãos do
senhor de engenho; com autoridade absoluta, submetendo todos ao seu poder:
mulher, filhos (adotivos e/ou ilegítimos, reconhecidos ou não), agregados e
qualquer um que habitasse seus domínios, com também, extrapolava os limites de
suas terras, expandindo-se pelas vilas, dominando as Câmaras Municipais e a
vida colonial. A posse de escravos e de terras determinava o lugar ocupado na
sociedade do açúcar. Os senhores de engenho detinham posição mais vantajosa.
Possuíam, além de escravos e terras, o engenho. Muitos tinham em suas terras
rendeiros, plantadores de cana independentes, que não possuíam recursos para
montar um engenho para moer a sua cana; formando uma elite entre os
agricultores. Esses dois grupos - senhores de engenho e agricultores, unidos
pelo interesse e pela dependência em relação ao mercado internacional, formaram
o setor açucareiro. Os interesses comuns, porém, não asseguravam a ausência de
conflitos no relacionamento. Os senhores de engenho consideravam os
agricultores seus subalternos, que lhes deviam não só cana-de-açúcar, mas
também respeito e lealdade. As esposas dos senhores de engenho seguiam o
exemplo, tratando como criadas as esposas dos agricultores. Com o tempo, esse
grupo de plantadores independentes de cana foi desaparecendo, devido à
dependência em relação aos senhores de engenho e às dívidas acumuladas. Essa
situação provocou a concentração da propriedade e a diminuição do número de
agricultores. Existiam também os lavradores, que não possuíam terras, somente
escravos; e que recorriam a alguma forma de arrendamento de terras dos engenhos
para plantar a cana. Esse contrato impunha-lhes um pesado ônus, pois em cada
safra cabia-lhes, apenas, uma pequena parcela do açúcar produzido. Esses homens
tornaram-se fundamentais à produção do açúcar. O senhor de engenho deixava em
suas mãos toda a responsabilidade pelo cultivo da cana, assumindo somente a
parte do beneficiamento do açúcar, muito mais lucrativa. Nesta época, o termo
"lavrador de cana" designava qualquer pessoa que praticasse a
agricultura, podendo ser usado tanto para o mais humilde dos lavradores como
para um grande senhor de engenho, conforme explica o historiador americano
Stuart Schwartz.
O primeiro engenho construído no Brasil
foi devido às ordens de Martim Afonso de Sousa (1533) na capitania de São
Vicente. Chamou-se engenho São Jorge. Mais tarde, adquirido pelo alemão Erasmo
Esquert, passou a ser conhecido como S. Jorge dos Erasmos.
Em 1535, próximo de Olinda (Pernambuco)
foi construído o engenho Nossa Senhora da Ajuda, denominado de Forno da Cal,
depois de Engenho Velho, de propriedade de Jerônimo de Albuquerque. Pero de
Magalhães Gandavo, escrevendo possivelmente na sexta década do século XVI, nos
relaciona os engenhos por esta época existentes no Brasil: ltamaracá/PE - 01
engenho e 02 em construção; Pernambuco - 23 engenhos, dos quais 03 ou 04 em
construção; Bahia de Todos os Santos 18 engenhos; Ilhéus - 08 engenhos; Porto
Seguro – 05 Engenho de açúcar é o nome da grande propriedade agrícola destinada
à produção do açúcar. Os proprietários dos engenhos eram conhecidos como
senhores de engenho. Fazia parte do engenho: Casa-grande: eram construções
sólidas e espaçosas, onde viviam o senhor de engenho e sua família: mulher,
filhos e agregados. A casa-grande era o centro da vida social e econômica do
engenho. Capela: local onde se realizavam os serviços religiosos católicos. Aos
domingos e dias santos, a capela era o ponto de encontro da comunidade, ali
realizavam-se batizados, casamentos e funerais. Senzala: era a moradia dos
escravos. Era uma habitação rústica e pobre, onde os negros eram amontoados,
sem nenhum conforto. Engenho: instalações destinadas ao preparo do açúcar - a
moenda, onde a cana era moída para a extração do caldo; as fornalhas, onde o
caldo era fervido e purificado em tachos de cobre; a casa de purgar, onde o
açúcar era branqueado; os galpões, onde os blocos de açúcar eram quebrados em
várias partes e reduzidos a pó. Na grande propriedade canavieira (latifúndio),
além dos canaviais, havia as pastagens para os animais usados no trabalho,
plantação de alimentos apenas para o consumo interno, matas para o fornecimento
de lenha e madeira. Havia as oficinas, estrebarias, casa dos cobres etc. A
aguardente era extraída da cana-de-açúcar, só que sua exportação era
insignificante. A maior parte era consumida aqui na colônia e o restante usado
na troca de escravos.
Com a crise do setor açucareiro, o
Brasil precisou fazer modificações na sua produção, construindo ferrovias e
implantando modernos engenhos de açúcar. Nas últimas décadas do século XIX,
alguns proprietários mais ricos e empreendedores, melhoraram as condições
técnicas dos seus engenhos, com a implantação de máquinas para a produção do
açúcar cristal. Esses engenhos modernos seriam chamados de engenhos centrais e
usinas.
Os engenhos centrais não tinham
diferença do ponto de vista técnico das usinas, mas sim do ponto de vista
econômico: geralmente pertenciam a uma sociedade, não possuíam terras e não
desenvolviam atividades agrícolas.. A partir de 1871, houve uma mudança gradual
na agroindústria açucareira em Pernambuco, com a decadência dos antigos
engenhos banguês (que produziam um açúcar de cor escura, mascavo) e sua substituição
pelos engenhos centrais e usinas. Foram poucos os engenhos banguês que
conseguiram sobreviver até a segunda metade do século XX.
A zona canavieira pernambucana já teve
uma boa malha ferroviária, composta pelas ferrovias da antiga Great Western e
pelos ramais construídos pelas usinas para o transporte da cana. No entanto, a
partir da metade da década de 1960, as ferrovias ficaram abandonadas sendo
substituídas pelas rodovias.
A primeira usina implantada em Pernambuco foi a
de São Francisco da Várzea, cuja primeira moagem aconteceu em 1875. Pernambuco
já chegou a ter mais de cem usinas. Atualmente, no entanto, existem apenas
cerca de 17.