quarta-feira, 26 de novembro de 2014

4 - ENGENHOS DE AÇÚCAR NO BRASIL E EM PERNAMBUCO


Foi em 1518 que ocorreu a primeira instalação de um engenho no Brasil, época onde havia sido registrada a entrada de açúcar brasileiro na alfândega de Lisboa. Contudo, muitos consideram que a verdadeira indústria do açúcar foi implantada no Brasil a partir de 1530, com a vinda de Martim Afonso de Souza. Em 1570 já havia 60 engenhos no Brasil. A necessidade de mão de obra levou os donos dos engenhos a tentar, sem sucesso, escravizar os indígenas. Então optaram por trazer escravos da África. Décadas depois, a cachaça, um destilado dos subprodutos da produção do açúcar, melaço e espumas fermentados, serviu de troca no comércio de escravos. Os senhores de engenho dominaram a economia e a política brasileira por séculos, desde a época colonial, passando pelo império e chegando à república, embora ao longo dessas épocas tenham tido fases de declínios e reerguimentos. Os primitivos engenhos implantados no início do século XVI geraram no século vinte o setor sucroalcooleiro, que no início do século XXI se posicionou em segundo lugar na matriz energética brasileira. Engenhoca fusão das palavras engenho + oca (indígena), traduzindo por casa do engenho ou também um engenho pequeno, que serve para fazer rapadura e cachaça. Engenhos de Açúcar No Brasil colonial, os primeiros engenhos foram criados com capital português, pois, além deles já conhecerem o produto, queriam atender a demanda do produto na Europa.
Havia os engenhos trapiches, movidos por tração animal (bois ou cavalos);e os engenhos “reais"  que eram movimentados por força hidráulica, dividindo-se em: "copeiros", "meio-copeiros" e "rasteiros", conforme a altura da queda d’água. Deve-se ressaltar que os engenhos reais eram bem mais produtivos do que os "trapiches", embora, em épocas de seca, se mostrassem menos eficientes. Os "trapiches" eram movidos por sessenta bois, dispostos em turmas de doze, que faziam revezamento, trabalhando um total de quinze a dezesseis horas em vinte e quatro.
Ambrósio Fernandes Brandão, autor dos "Diálogos das Grandezas do Brasil" (1618), afirma-nos que um bom engenho devia contar, no mínimo, com cinquenta escravos, quinze juntas de bois, além de muita lenha e dinheiro. No engenho banguê havia várias construções: a casa grande - moradia do senhor e de sua família; a senzala (lugar onde ficavam os escravos); a capela; a casa dos trabalhadores livres; as serrarias de onde saíam acabados o mobiliário, os apetrechos do engenho, além da madeira para as casas e a casa do engenho onde ficava a moenda (movida a água ou a tração animal) - onde se moía a cana para a extração do caldo (a garapa); a casa das caldeiras ou fornalhas - onde o caldo de cana era fervido e purificado em tachos de cobre; a casa de purgar - onde o açúcar era branqueado, separando-se o açúcar mascavo (escuro) do açúcar de melhor qualidade e depois posto para secar. Quando toda a operação do fabrico do açúcar terminava, o produto era pesado e separado conforme a qualidade, e colocado em caixas de até 50 arrobas. Só então era exportado para a Europa.
Muitos engenhos possuíam também destilarias para produzir a aguardente (cachaça), utilizada como escambo no tráfico de negros da África; canaviais que eram divididos em partidos, explorados ou não pelo proprietário, as terras não exploradas pelo senhor do engenho eram cedidas aos lavradores, obrigados a moer sua cana no engenho do proprietário, entregando-lhe a metade de sua produção, além de pagar o aluguel da terra usada (10% da produção); as pastagens, onde pouco gado era criado; e a lavoura de subsistência, onde se destacava o cultivo de subsistência: mandioca, milho, arroz e do feijão. Mas sua produção insuficiente não atendia às necessidades da população do engenho. Isto porque os senhores não se interessavam pelo cultivo, pois consideravam os produtos de baixa lucratividade e prejudiciais ao espaço da lavoura açucareira, centro dos interesses da colonização. As demais atividades eram deixadas num segundo plano, ocasionando grande falta de alimentos e alta dos preços. Esse problema não atingia os senhores, que importavam os produtos da Europa para sua alimentação. A parte das terras do engenho destinada ao cultivo da cana - o canavial.
A sociedade açucareira, séculos XVI e XVII, era patriarcal, onde a maior parte dos poderes se concentrava nas mãos do senhor de engenho; com autoridade absoluta, submetendo todos ao seu poder: mulher, filhos (adotivos e/ou ilegítimos, reconhecidos ou não), agregados e qualquer um que habitasse seus domínios, com também, extrapolava os limites de suas terras, expandindo-se pelas vilas, dominando as Câmaras Municipais e a vida colonial. A posse de escravos e de terras determinava o lugar ocupado na sociedade do açúcar. Os senhores de engenho detinham posição mais vantajosa. Possuíam, além de escravos e terras, o engenho. Muitos tinham em suas terras rendeiros, plantadores de cana independentes, que não possuíam recursos para montar um engenho para moer a sua cana; formando uma elite entre os agricultores. Esses dois grupos - senhores de engenho e agricultores, unidos pelo interesse e pela dependência em relação ao mercado internacional, formaram o setor açucareiro. Os interesses comuns, porém, não asseguravam a ausência de conflitos no relacionamento. Os senhores de engenho consideravam os agricultores seus subalternos, que lhes deviam não só cana-de-açúcar, mas também respeito e lealdade. As esposas dos senhores de engenho seguiam o exemplo, tratando como criadas as esposas dos agricultores. Com o tempo, esse grupo de plantadores independentes de cana foi desaparecendo, devido à dependência em relação aos senhores de engenho e às dívidas acumuladas. Essa situação provocou a concentração da propriedade e a diminuição do número de agricultores. Existiam também os lavradores, que não possuíam terras, somente escravos; e que recorriam a alguma forma de arrendamento de terras dos engenhos para plantar a cana. Esse contrato impunha-lhes um pesado ônus, pois em cada safra cabia-lhes, apenas, uma pequena parcela do açúcar produzido. Esses homens tornaram-se fundamentais à produção do açúcar. O senhor de engenho deixava em suas mãos toda a responsabilidade pelo cultivo da cana, assumindo somente a parte do beneficiamento do açúcar, muito mais lucrativa. Nesta época, o termo "lavrador de cana" designava qualquer pessoa que praticasse a agricultura, podendo ser usado tanto para o mais humilde dos lavradores como para um grande senhor de engenho, conforme explica o historiador americano Stuart Schwartz.
O primeiro engenho construído no Brasil foi devido às ordens de Martim Afonso de Sousa (1533) na capitania de São Vicente. Chamou-se engenho São Jorge. Mais tarde, adquirido pelo alemão Erasmo Esquert, passou a ser conhecido como S. Jorge dos Erasmos.
Em 1535, próximo de Olinda (Pernambuco) foi construído o engenho Nossa Senhora da Ajuda, denominado de Forno da Cal, depois de Engenho Velho, de propriedade de Jerônimo de Albuquerque. Pero de Magalhães Gandavo, escrevendo possivelmente na sexta década do século XVI, nos relaciona os engenhos por esta época existentes no Brasil: ltamaracá/PE - 01 engenho e 02 em construção; Pernambuco - 23 engenhos, dos quais 03 ou 04 em construção; Bahia de Todos os Santos 18 engenhos; Ilhéus - 08 engenhos; Porto Seguro – 05 Engenho de açúcar é o nome da grande propriedade agrícola destinada à produção do açúcar. Os proprietários dos engenhos eram conhecidos como senhores de engenho. Fazia parte do engenho: Casa-grande: eram construções sólidas e espaçosas, onde viviam o senhor de engenho e sua família: mulher, filhos e agregados. A casa-grande era o centro da vida social e econômica do engenho. Capela: local onde se realizavam os serviços religiosos católicos. Aos domingos e dias santos, a capela era o ponto de encontro da comunidade, ali realizavam-se batizados, casamentos e funerais. Senzala: era a moradia dos escravos. Era uma habitação rústica e pobre, onde os negros eram amontoados, sem nenhum conforto. Engenho: instalações destinadas ao preparo do açúcar - a moenda, onde a cana era moída para a extração do caldo; as fornalhas, onde o caldo era fervido e purificado em tachos de cobre; a casa de purgar, onde o açúcar era branqueado; os galpões, onde os blocos de açúcar eram quebrados em várias partes e reduzidos a pó. Na grande propriedade canavieira (latifúndio), além dos canaviais, havia as pastagens para os animais usados no trabalho, plantação de alimentos apenas para o consumo interno, matas para o fornecimento de lenha e madeira. Havia as oficinas, estrebarias, casa dos cobres etc. A aguardente era extraída da cana-de-açúcar, só que sua exportação era insignificante. A maior parte era consumida aqui na colônia e o restante usado na troca de escravos.
Com a crise do setor açucareiro, o Brasil precisou fazer modificações na sua produção, construindo ferrovias e implantando modernos engenhos de açúcar. Nas últimas décadas do século XIX, alguns proprietários mais ricos e empreendedores, melhoraram as condições técnicas dos seus engenhos, com a implantação de máquinas para a produção do açúcar cristal. Esses engenhos modernos seriam chamados de engenhos centrais e usinas.
Os engenhos centrais não tinham diferença do ponto de vista técnico das usinas, mas sim do ponto de vista econômico: geralmente pertenciam a uma sociedade, não possuíam terras e não desenvolviam atividades agrícolas.. A partir de 1871, houve uma mudança gradual na agroindústria açucareira em Pernambuco, com a decadência dos antigos engenhos banguês (que produziam um açúcar de cor escura, mascavo) e sua substituição pelos engenhos centrais e usinas. Foram poucos os engenhos banguês que conseguiram sobreviver até a segunda metade do século XX.
A zona canavieira pernambucana já teve uma boa malha ferroviária, composta pelas ferrovias da antiga Great Western e pelos ramais construídos pelas usinas para o transporte da cana. No entanto, a partir da metade da década de 1960, as ferrovias ficaram abandonadas sendo substituídas pelas rodovias.
A primeira usina implantada em Pernambuco foi a de São Francisco da Várzea, cuja primeira moagem aconteceu em 1875. Pernambuco já chegou a ter mais de cem usinas. Atualmente, no entanto, existem apenas cerca de 17.

5 - O PROCESSAMENTO DA CANA-DE-AÇÚCAR




A cana colhida é processada com a retirada do colmo (caule), que é esmagado, liberando o caldo que é concentrado por fervura, resultando no xarope, a partir do qual o açúcar é cristalizado, tendo como subproduto o melaço ou mel final. O colmo é às vezes consumido in natura (mastigado), ou então usado para fazer caldo de cana e rapadura. O caldo também pode ser utilizado na produção de etanol, através de processo fermentativo, além de bebidas como cachaça ou rum e outras bebidas alcoólicas, enquanto as fibras, principais componentes do bagaço, podem ser usadas como matéria prima para produção de energia elétrica, através de queima e produção de vapor em caldeiras que tocam turbinas, e etanol, através de hidrólise enzimática ou por outros processos que transformam a celulose em açucares fermentáveis.
Praticamente todos os resíduos da agroindústria canavieira são reaproveitados. A torta de filtro, formada pelo lodo advindo da clarificação do caldo e bagacilho, é muito rica em fósforo e é utilizada como adubo para a lavoura de cana-de-açúcar. A vinhaça, um subproduto da produção de álcool, contém elevados teores de potássio, água e outros nutrientes, sendo utilizada para irrigar e fertilizar o campo. Pode também ser utilizada como biomassa para produção de biogás (composto basicamente de metano e gás carbônico).